Desmatamento para minha viagem? Não, obrigado!
A indústria aeronáutica quer tornar-se climaticamente neutra com agrocombustível. Mas o bioquerosene significa uma aumento da demanda de óleo de palma, cujo cultivo ameaça as florestas tropicais. Por favor, proteste contra os planos da Organização da Aviação Civil Internacional ICAO.
ApeloPara: ICAO
“Com o uso de bioquerosene, a indústria aeronáutica quer proteger o clima. Mas o cultivo de óleo de palma destrói o meio ambiente. Por favor proteste!”
O tráfego aéreo está crescendo rapidamente – e assim os problemas ambientais causados por esta indústria. Aviões já estão responsáveis por uns cinco por cento das emissões de gases com efeito de estufa. Segundo a Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO) das Nações Unidas, as emissões de CO2 da comunidade aeronáutica vão quintuplicar até 2050 para 2,5 milhões de toneladas por ano.
A alegada solução da agência: o tráfego aéreo deve crescer de forma “neutra em termos de clima”. O comércio com licenças de emissão, o uso de bioquerosene e aviões mais eficientes devem possibilitar isso.
Porém, o comércio com certificados CO2 não significa que se reduzam as emissões. A indústria aeronáutica meramente compra “direitos de poluição” por meio de certificados CO2 e o dinheiro é investido em projetos de proteção climática em todo o mundo. Há uma controvérsia entre especialistas sobre se esta prática tem um impacto positivo ao clima.
Para a produção de bioquerosene precisam-se enormes áreas de cultivo para substituir somente uma percentagem pequena dos 260 milhões de toneladas de combustível que o tráfego aéreo consome todos os anos.
Além de óleos vegetais, a ICAO também menciona algas, madeira e resíduos como possíveis matérias-primas para o bioquerosene. Mas não existem as técnicas de produção e as quantidades necessárias. Tentativas no cultivo de camelina para vôos de teste resultaram em rendimentos muito baixos. É de recear que a indústria utilize óleo de palma hidratado que já é produzido comercialmente por empresas como a Neste Oil, Eni e Repsol/Cepsa. Afim de criar espaço para sempre novas plantações de dendezeiros, cada vez mais florestas tropicais são desmatadas. Assim, quantidades enormes de carbono saem na atmosfera.
Por favor, apoie a nossa petição à ICAO – e abdique de vôos desnecessários!
O consumo de combustível do setor dos transportes aéreos é enorme. No relatório ambiental de 2010 a ICAO considerou que o consumo de 187 milhões de toneladas no ano de 2006 aumentaria para entre 461 e 541 milhões de toneladas em 2036. Para o ano de 2016 a ICAO estima um consumo de 260 milhões de toneladas. Em 2050 o consumo de combustível deve estar entre 700 e 900 milhões de toneladas.
No seu relatório ambiental de 2016 a ICAO analisa diferentes cenários quanto à demanda de energia. Para atender esta demanda com bioquerosene, segundo a ICAO, 170 refinarias teriam que ser construídas e até 60 bilhões de dólares teriam que ser investidos todos os anos.
Um projeto de pesquisa do setor aeronáutico, o projeto Itaka, prova a dificuldade de produzir até pequenas quantidades de bioquerosene para vôos de teste. A indústria está experimentando com o cultivo de camelina na Espanha e Romênia, com verbas públicas da União Europeia. Para diminuir a concorrência de terras férteis com o cultivo de alimentos, o projeto optou pelo cultivo em solos marginais. Numa área total de 10.500 hectares produziram-se 2000 toneladas de óleo de camelina. Como a quantidade não era suficiente para os vôos de teste, adicionaram óleo de camelina comprado dos EUA. Além disso, produziram bioquerosene a partir de resíduos da gastronomia. Os operadores do projeto comentam que os resíduos não são vistos como matéria-prima principal, já que as quantidades acessíveis estão limitadas e já são usadas de outros setores com diferentes finalidades.
Os óleos foram transformados nas refinarias do parceiro do projeto Neste Oil em óleo vegetal hidratado assim como ésteres e ácidos graxos hidratados. A hidratação de óleos vegetais é o único processo já aplicado comercialmente em grande escala afim de produzir biocombustível para aviões. Óleos vegetais hidratados mostram caraterísticas muito semelhantes ao combustível fóssil e podem ser usados como combustível. O biodiesel não é apropriado para o uso em aviões.
Os métodos podem ser aplicados em refinarias de petróleo já existentes assim como em instalações particularmente estabelecidas para isto. A Neste Oil já está explorando quatro grandes refinarias de óleos vegetais hidratados: duas instalações com uma capacidade de 800 mil toneladas respetivamente em Roterdã e Singapura. As principais matérias-primas são 870 mil toneladas de óleo de palma (CPO) e 1,93 milhões de toneladas de resíduos (gorduras animais e ácidos graxos destilados do óleo de palma), escreve a Neste Oil no relatório anual.
A empresa italiana ENI bem como as empresas petrolíferas espanholas Repsol e Cepsa também produzem óleos vegetais hidratados a partir de óleo de palma. O grupo francês Total está construindo uma refinaria para a hidratação no porto de Marseille. Óleo de palma é o óleo vegetal mais barato no mercado global e acessível em milhões de toneladas. A produção anual de óleo de palma é da ordem de 65 milhões de toneladas.
Mais informações:
Biofuelwatch: The high-flown fantasy of aviation biofuels
FERN, 27 de Setembro de 2016: International declaration denounces ICAO offset plan
FERN, 9 de Setembro de 2016: Cheating the climate: the problems with aviation industry plans to offset emissions
Oakland Institute: Eco-skies - the global rush for aviation biofuel
Friends of the Earth: Flying in the face of the facts - Greenwashing the aviation industry with biofuels
Para: ICAO
Excelentíssimos senhores e senhoras,
é conveniente que o setor aeronáutico se preocupe com a proteção do meio ambiente. Porém, os planos apresentados com este fim – o comércio com licenças de emissão e o uso de bioquerosene – não contribuem para a conservação da natureza.
Certificados de clima e o financiamento de projetos para a compensação de emissões de CO2 não diminuem as emissões dos aviões. O comércio com licenças de emissão significa que a responsabilidade pelas emissões causadas seja transferida para outras empresas contra pagamento.
Para a produção de grandes quantidades de bioquerosene o uso de óleo de palma é quase inevitável. A indústria de óleo de palma desmata as florestas tropicais e emite assim enormes quantidades de dióxido de carbono.
Todos os demais métodos de produção e as matérias-primas consideradas pela ICAO não representam alternativas realísticas.
Os planos de um crescimento supostamente neutro em termos de clima parecem-nos um engano do público. A única solução é: voar menos.
Com os meus sinceros agradecimentos
Esta petição está disponível, ainda, nas seguintes línguas:
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