
Povo Awa Guajá quer contar a própria história após décadas de silenciamento
O povo Awa Guajá que vive na TI Caru, na floresta amazônica maranhense, quer reescrever a própria história em textos, desenhos, fotos e vídeos para contrapor narrativas da mineradora Vale, que há décadas impõe destruições materiais e simbólicas ao seu território milenar
Visão geral do projeto
Tema do projetoHabitats / Pessoas
Objetivo do projeto Permanência dos povos e comunidades tradicionais no território ancestral
Atividades Por meio da comunicação e formação em direitos humanos defendem o território
Desde tempos imemoriais, os povos indígenas no Brasil sempre protegeram as florestas, as águas, os animais e os espíritos em seus territórios. Com o povo Awa Guajá não é diferente. Eles conhecem e guardam os caminhos vivos que ligam o céu e a terra, cercados por uma floresta amazônica tão alta e cheia de árvores imensas que chegam a abraçar as nuvens.
Eles caçam, cantam e tecem relações com todos os seres vivos. Foi seu profundo conhecimento da terra, das águas, das plantas e dos bichos que garantiu que estivessem a salvo no interior da floresta, pelo menos até os anos 1960, da invasão dos karai, como eles chamam os brancos.
Hoje, o povo Awa Guajá vive no que ainda resta de floresta amazônica a noroeste do estado do Maranhão, entre as Terras Indígenas (TI) Caru, Alto Turiaçu e Awa. A população estimada de Awa Guajá é de 600 pessoas, e outros cerca de 60 Awa Guajá que vivem em isolamento voluntário entre as TIs Awa e Caru, e também na TI Araribóia, onde vive o povo Guajajara, também no Maranhão, no nordeste do Brasil.
Os Awa Guajá são classificados pelo Estado brasileiro como um povo indígena de recente contato, o que significa que se reconhece que estão em uma situação de grande vulnerabilidade territorial, social, cultural, política, linguística e epidemiológica.

Evidências de um genocídio
Um número tão baixo de pessoas de um mesmo povo reflete a política genocida do governo brasileiro contra povos indígenas e comunidades tradicionais durante o longo período da ditadura civil-militar, entre meados dos anos 1960 até início dos anos 1980. Naquela época, os generais estimulavam a colonização da Amazônia – que eles, arbitrariamente, consideravam um “vazio demográfico” – por toda sorte de aventureiros interessados em explorar madeira, minério e outros bens naturais sempre muito bem protegidos pelos povos indígenas.
O estímulo acontecia principalmente com a abertura de estradas no meio da floresta. Assim foi com os Awa Guajá, que nos anos 1960 tiveram grande parte do seu território devastado pela construção da rodovia BR 222.
Depois, nos anos 1980, a mineradora Vale também devastou seu território com a construção de uma estrada de ferro com mais de 900 quilômetros, ligando a cidade de Parauapebas, no Pará, de onde extrai minério de ferro, até o Terminal Marítimo Ponta da Madeira, na cidade de São Luís, capital do Maranhão, por onde a Vale escoa o minério para China, Estados Unidos e países da Europa.
Com a chegada da Vale, tudo ficou mais difícil. Trens carregados de minério de ferro transportados a céu aberto em centenas de vagões circulam 24 horas por dia por dentro da floresta, perturbando a vida, assustando os bichos, poluindo rios e igarapés, atropelando pessoas e animais. Não há trégua.
A história dos Awa Guajá, hoje, é a dos sobreviventes de um genocídio.
E é essa história que eles querem contar desde que começaram a acessar verdades que lhe foram negadas por governos e empresas.

Direitos humanos e narrativas verdadeiras
Por meio de textos, desenhos, fotos e vídeos, e com o apoio de linguistas, antropólogos e advogados que são seus parceiros externos, o povo Awa Guajá que vive na TI Caru, na floresta amazônica maranhense, quer reescrever a própria história e contrapor narrativas da mineradora Vale.
O projeto que pretendem realizar em parceria com Salve a Floresta deve abranger toda a TI Caru, incluindo o grupo de 14 professores indígenas que atuam na escola local U.I.E.E.I. Awa Pape Japoharipa 'Yruhu.
No projeto, além de contar suas histórias em diferentes suportes – texto, vídeo, fotos, pinturas e desenhos –, também querem discutir temas como direitos territoriais, mudanças climáticas, organização do movimento indígena, impactos econômicos de empreendimentos, violência contra os povos indígenas e proteção dos seus direitos constitucionais e da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, com destaque ao direito à consulta livre, prévia e informada.
Além de subsidiar o trabalho dos professores indígenas, o projeto pretende colaborar para a organização política dos Awa Guajá, promovendo reflexões sobre a sua relação com outros grupos, indígenas ou não indígenas, e discutindo ferramentas para a garantia dos seus direitos.
Se quiser dar suporte ao povo Awa Guajá, acesse "doações" na área Proteger a quem protege a floresta.