Companhia de trens alemã (DB) salta fora de projeto ferroportuário na Amazônia

Um grupo de pessoas protesta com grandes faixas coloridas em frente a três torres de escritórios Manifestação na Potsdamer Platz em Berlin, em frente à sede da DB, no fim de maio de 2024 (© Stefanie Hess)

9 de abr. de 2025

Ao longo de 1 ano, a “Salve a Floresta” e outras organizações parceiras trabalharam intensivamente no sentido de esclarecer a Cia. Ferroviária Alemã (DB) sobre as fatais consequências de um planejado projeto ferroportuário no Brasil. E com sucesso: A DB comunicou-nos que não vai mais participar do projeto de infraestrutura GPM, na Amazônia brasileira.

“O acordo que assinamos com a firma GPM terminou e não foi prorrogado”, comunicou-nos a Cia. de Trens alemã (DB), respondendo à nossa consulta. “No momento, não estamos em intercâmbio ativo com a GPM e atualmente, não estamos planejando a continuação da cooperação”. Isso é o que diz a DB.

Para a Amazônia brasileira e as pessoas lá viventes, trata-se de uma notícia muito boa. Nossos parceiros brasileiros, como por exemplo a Justiça nos Trilhos estão aliviados e agradecem pela exitosa cooperação.

Em abril de 2024, em conjunto com ativistas do Brasil, nós organizamos reuniões no Ministério da Economia e também com servidore(a)s do Parlamento Federal alemão em Berlim, para adverti-los sobre o Projeto GPM e suas consequências. A DB é 100% de propriedade do estado alemão.

No final de maio de 2024 nós fizemos uma manifestação na Potsdamer Platz em Berlim, em frente à sede da DB para protestar contra a então planejada participação da DB no Projeto GPM. Na ocasião, também protocolamos uma queixa com fundamento na Lei das Cadeias de Fornecimento Global.

Em agosto, demos início à petição „Brasil: A companhia de trens alemã DB deve ficar fora da Amazônia!, que foi assinada por mais de 64.000 pessoas.

Isso porque não seria apenas a construção, em si, pela GPM, de uma ferrovia privada de 520 km em plena floresta amazônica - bem como de um porto de exportação nos manguezais atlânticos -que trariam graves consequências para a natureza e para o povo lá vivente. Também seriam absolutamente catastróficas as consequências que o projeto traria quanto ao boom de matérias-primas (vulgarmente chamadas de “commodities”) que surgiria: a expansão do cultivo, exploração e transporte de matérias-primas como soja e minério-de-ferro para o mercado mundial  

Mais um sucesso: Não vai ter dinheiro da UE para a GPM

Em conjunto com as nossas parceiras brasileiras, nós também conseguimos impedir um possível financiamento do Projeto GMP pela Initiative Global Gateway da Comissão Europeia. A Global Gateway é a resposta europeia para a iniciativa chinesa conhecida por “Nova Rota da Seda”. Com 300 bilhões de euros, a Comissão Europeia quer financiar, globalmente, projetos de infraestrutura na competição com a China, para, assim, garantir o acesso da indústria europeia aos mercados de matéria-prima e de vendas.

Depois de termos enviado numerosas cartas aos funcionários responsáveis na UE, tivemos oportunidade de agendar, em novembro de 2024, uma reunião com a Comissão Europeia em Bruxelas para tratar do assunto do Projeto GPM. Durante a reunião, foi-nos comunicado que a UE não daria suporte financeiro para o projeto. A DB tinha feito a ponte entre a GPM e a UE, tendo participado de, no mínimo, três apresentações do projeto em Bruxelas.

A nossa cooperação com a Justiça nos Trilhos vai prosseguir

A nossa cooperação com a a organização Justiça nos Trilhos vai prosseguir. Isso porque ainda não está claro como a coisa vai andar, relativamente à GPM. De qualquer modo, sem a DB e sem dinheiro da UE, vai ser bem mais difícil para a operadora concretizar o planejado projeto ferroportuário.

Empresas subsidiárias da DB, como por exemplo, a DB E.C.O. Group também participam de outros problemáticos projetos ferroviários no Brasil visando a exportação de matérias-primas.

Dentre tais projetos, vale mencionar duas ferrovias planejadas pela  mineradora Vale, que a DB deve fazer “climaticamente neutra”. É por meio da Estrada de Ferro Carajás (EFC) - a qual contém 900 km de extensão - que a Vale exporta anualmente 100 milhões de toneladas de minério-de-ferro das minas de Carajás (estas situadas em plena floresta amazônica) para um porto de exportação de propriedade da própria Vale em São Luís, às margens do Atlântico.

E também lá adiante, bem mais ao sul, existe a Estrada de Ferro Vitoria Minas (EFVM), a qual liga as áreas de mineração e agrárias do interior com um porto em Vitória. O que essa ferrovia transporta são matérias-primas como minério-de-fero, madeira, celulose e soja.

Ademais, a DB estaria interessada em um outro projeto ferroviário, o chamado “Corredor Fico – Fiol“. A proposta deste último é conectar as ferrovias já existentes no sertão como uma nova ferrovia de 900 km de extensão, cujo objetivo é fazê-la chegar a um planejado porto de exportação em Ilhéus, também na costa atlântica.


  1. “Corredor Fico – Fiol“DB, 14.2.2023. FICO – FIOL y GPM. Corredores férreos multimodales en Brasil con el know-how de Deutsche Bahn:https://uic.org/events/IMG/pdf/east-west_inrtegration_corridor_in_brazil_-_carsten_puls_db_engineering_and_consulting_230214.pdf

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