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Mulher cercada por 4 pessoas sentadas em cadeiras sob árvores, diante de faixas estendidas nos troncos, a falar.
Encontro com os moradores e apoiadores da área protegida Tauá-Mirim, na Amazônia (© RdR/ Klaus Schenck)
Grupo de 9 pessoas almoçando e conversando em torno de mesa improvisada
Almoço comunitário na aldeia Taim, na floresta primária dos Tauá-Mirim (© RdR/ Klaus Schenck)
Foto de grupo de 20 pessoas com uma faixa e camisetas com o logo de tucano da associação “Salve a Floresta” (Rettet den Regenwald)
Juntos somos fortes: Foto de grupo de encontro com nossas organizações parceiras em São Luís do Maranhão (© Rettet den Regenwald)
Grupo de pessoas do povo Akroá-Gamella dançando com matracas nas mãos, em círculo
Com danças e cantos, os Akroá-Gamella unem-se aos espíritos da floresta. (© RdR/ Klaus Schenck)
Grupo de 12 pessoas - Mulheres e homens em torno de uma mesa com metades de peixe grelhado.
Ao fim de nosso encontro com os Akroá-Gamella, teve peixe grelhado. (© RdR/ Klaus Schenck)
Dois homens torrando mandioca em uma grande chapa de metal quadrada.
Produção de farinha de mandioca de modo tradicional (© Rettet den Regenwald)
Duas mulheres mostram, à mesa, um caderninho de notas aberto, feito a partir de folhas da bananeira.
A iniciativa de mulheres mostra-nos os cadernos de notas que produziram com base em folhas da bananeira (© RdR/ Klaus Schenck)
30 pessoas se juntaram embaixo de árvores para uma foto, sob as àrvores
Foto do nosso encontro com os habitantes da aldeia Alegria (© Rettet den Regenwald)
Três pessoas observando o mapa pendurado em um poste de madeira.
Antonia, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) explicando, com um mapa, a situação das aldeias na área em questão (© RdR/ Klaus Schenck)
Grupo de pessoas em pé, diante de uma nascente na floresta tropical.
A floresta tropical consegue armazenar água mesmo após meses e meses de seca. (© RdR/ Klaus Schenck)

Visita aos nossos parceiros do Maranhão

2 de nov. de 2025Guadalupe Rodríguez, Felipe Duran e Klaus Schenck viajaram pelo Brasil, representando a nossa associação, para visitar as nossas organizações-parceiras. Aqui um relatório de nossa visita ao Maranhão. O ponto final de nossa viagem foi a participação na Cúpula dos Povos, que teve lugar paralelamente à Conferência Mundial do Clima (COP-30), a qual aconteceu em Belém, em meados de novembro.


1 de novembro de 2025

Queremos que Tauá-Mirim vire área de proteção ambiental

“Queremos que o nosso território continue aqui na floresta”, declara Rosana, da aldeia Taim. “O governo e as empresas precisam colocar a natureza e as gentes em primeiro lugar. Nós protegemos a floresta tropical úmida e os manguezais, as nascentes e os espíritos da natureza (“encantados”). Tauá-Mirim, que é a nossa área, é o pulmão verde de São Luís.

O que a Rosana quis dizer, ficou exageradamente claro para nós, quando estávamos a caminho de Tauá-Mirim. Da capital maranhense, São Luís, andamos de carro por uma autoestrada que passou por uma área que nos pareceu apocalíptica. Nessa área, não sobrou quase nada da floresta amazônica.

Em vez disso, passamos foi por cabanas de ferro, terminais e portos para escoagem do minério-de-ferro, uma refinaria de alumínio que continha uma imensa bacia com lama vermelha tóxica, além de áreas de carga e descarga para soja, milho e celulose produzida a partir do eucalipto, uma usina termoelétrica, tanques de depósito para gasolina e óleo diesel, enormes pavilhões da indústria de adubos, uma fábrica de cimento, minas operantes e exploração de sangue e cascalho, enormes complexos de postos de abastecimento de combustíveis e estacionamento para pausa de caminhões. E tudo isso cheio de lixo, entulho, terra queimada e fumaça tóxica.

Conseqüências do consumo de matérias-primas

O Brasil é um dos maiores fornecedores de matéria-prima do mundo. O nosso consumo e estilo de vida baseiam-se na exploração de recursos naturais e das pessoas que lá vivem.. E assim é que o cinturão portuário e industrial às margens da enorme Baía de São Marcos, que vai do Atlântico até às margens do Tauá-Mirim, está ameaçando engolir toda a área. Dentre outras instalações, deve ser construído lá m terminal de regaseificação, no qual gás natural líquido (GNL) é reconduzido ao estado gasoso.

Na aldeia Taim, os moradores nos receberam com frutas frescas e sucos; de almoço, teve arroz com peixe e purê de açaí. Já faz 22 anos que eles estão lutando para que o governo brasileiro declare a área Tauá-Mirim, a qual contém 16.000 hectares, como uma Reserva Extrativista (RESEX), tornando-a, assim, uma área protegida. Esta categoria de área protegida, no Brasil, reúne a conservação da natureza com os direitos de uso dos povos e comunidades tradicionais. Isto é corresponde, na União Européia, a uma reserva de bioesfera e, no nível internacional, a um a “área de proteção com uso sustentável dos recursos naturais”.

“O nosso território Tauá-Mirim é o pulmão verde de São Luís, a capital do Maranhão.”

As cerca de 2.000 famílias que vivem em 12 aldeias em Tauá-Mirim coletam nos manguezais siris e mariscos, pescam peixes com pequenas redes e nassas; na floresta, eles colhem açaí (Euterpe oleracea)  e burití (Mauritia flexuosa), além de cultivar, para o próprio consumo, mandioca, legumes e frutas tropicais em pequenas parcelas.

“Salve a Floresta” apoia a iniciativa com a petição nove organizações-parceiras nossas no Maranhão. Para esse fim, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) colocou à nossa disposição o escritório deles no Maranhão. Trocamos idéias com um total de 22 pessoas a respeito do trabalho conjunto, das atividades apoiadas com as verbas resultantes das doações que recebemos e sobre projetos, bem como sobre o futuro trabalho conjunto e suas estratégias.

O nosso trabalho vem tendo sucesso, pois trouxemos à nossa rede de organizações parceiras que se complementam bem entre si e prestam um trabalho confiável, coordenado e eficiente para a proteção dos direitos humanos e do meio-ambiente.

As mais importantes ameaças estão na expansão da agroindústria e da mineração visando a exportação de matérias-primas (não raro eufemisticamente chamadas de “commodities”), bem como grandes projetos de infraestrutura e de energia para a construção de rodovias, ferrovias cargueiras e portos de exportação.

Um tema que afeta todos os grupos apoiados é o intenso uso de pesticidas - herbicidas, inseticidas e fungicidas - pela agroindústria. Especialmente graves são a pulverização aérea, por meio de drones e aviões a hélice, porque eles contaminam a área como um todo. Muitos dos produtos químicos utilizados são proibidos na União Europeia, por serem classificados como especialmente prejudiciais ao meio-ambiente ou à saúde. Os nossos parceiros dizem que está sendo feita uma guerra de veneno contra eles, cujo objetivo é prejudicá-los, esfomeá-los e expulsá-los de suas terras.

A alternativa para isso é a agroecologia, pois esta é pró-gente e pró-meio-ambiente, o que quer dizer agricultura em áreas pequenas sem o uso de produtos químicos, bem como a combinação da agricultura com árvores (sistemas agroflorestais) e permacultura.


30 de outubro de 2025

Visita ao povo Akroá-Gamella

Chegamos atrasados à aldeia do povo Akroá-Gamella por termos ficado parados em congestionamentos decorrentes de obras. Por dezenas de quilômetros, as rodovias estão sendo reformadas e expandidas em virtude de seu estado de ruína decorrente do pesado tráfego de caminhões. Pesados caminhões de nove eixos e 26 metros de comprimento transportam soja, milho e madeira tropical do interior em infinitas caravanas rumo aos portos de São Luís, enquanto na direção oposta são transportados combustíveis, adubos e pesticidas.

Por conta disso, quando chegamos à aldeia dos Akroá-Gamella já estava escuro. Fomos recebidos em seu território com danças e cantos. Com isso, eles se afinavam com os espíritos da floresta, preparando a nossa visita. E assim a visita começou, também nós tivemos que dançar com eles e tornarmo-nos membros do grupo. Para os povos amazônicos, é sempre o coletivo que está no centro, nunca o indivídulo, e as decisões são sempre tomadas em conjunto, no âmbito de assembléias.

Passamos a noite na casa do líder indígena Kum’tum, na aldeia Cajueiro Piraí. A casa dele fica em um antigo latifúndio ocupado pelo povo Akroá-Gamella. Foi lá que, em agosto, teve lugar uma assembléia da Teia dos Povos do Maranhão, da qual participaram mais de mil pessoas de diferentes povos, bem como afrobrasileiros provenientes de comunidades quilombolas. “Salve a Floresta” co-financiou o projeto com dinheiro de doações.

Na manhã seguinte, nós nos reunimos para conversas, que também foram abertas com danças e cantos. “Nós, os Akroá-Gamella, pertencemos aos povos indígenas que, de acordo com a política de integração e assimilação dos governos brasileiros, já devíamos estar extintos”, relata Kum’tum.

Reocupação de áreas roubadas

“Depois de longo silêncio, começamos a nos organizar nos anos 90. Em 2014, a FUNAI começou a demarcar as nossas Terras Taquaritiuá; no entanto, o processo ficou empacado. De uns anos para cá, começamos a reocupar áreas roubadas. Essa terra ninguém pode comprar, pois ela pertence a nós, ou melhor: nós é que pertencemos à terra.

Os indígenas fazem relatos sobre os constantes ataques, chicanas, bem como o ódio e a violência a que estão expostos. Também eles sofrem com o a pulverização aérea de pesticidas. Madeireiras roubam as valiosas áreas de terra; dos rios, retiram areia e pedras para que estes sirvam como materiais de construção. Ademais, a terra deles vem sendo tomada por atividades agroindustriais e projetos de infraestrutura, chegando até a ser usada como depósito de lixo de duas cidades vizinhas.

Visita duvidosa da Polícia Federal

Neste ponto tivemos de interromper a nossa visita. Em Centro do Antero, a aldeia vizinha, surgiu a Polícia Federal com três jipes e policiais armados. Juntos, fomos imediatamente para lá. Os policiais que coordenavam a ação declararam que sua visita era amistosa, eles estariam averiguando denúncias feitas pelos Akroá-Gamella contra o conglomerado de eletricidade Equatorial. “Essa empresa instalou linhas de alta tensão pelas nossas terras, sem sequer ter-nos comunicado antes”, declarou uma liderança.

No entanto, rapidamente começam a surgir dúvidas acerca dos objetivos da Polícia Federal. Eles não tiveram condições de mostrar nenhuma ordem de ação, tampouco gravaram qualquer depoimento de testemunhas ou colheram provas, eles pretendiam apenas inspecionar a área.

É bem possível que os policiais quisessem apenas saber como nós reagiríamos, como é o acesso para a aldeia, quais eram as características da área quem seriam o(a)s nossos líderes - especulam os indígenas entre si. Por fim, os policiais federais saem de lá para verificar a construção de um posto de gasolina que está sendo ilegalmente construído nas terras dos Akroá-Gamella.

Ao fim do nosso encontro, os Akroá-Gamella servem-nos peixe grelhado. Depois disso, tivemos que fazer as nossas malas e voltar para São Luís, tendo de passar, de novo, por obras e filas infinitas de caminhões.


29 de outubro de 2025

Diversidade saudável em vez de monoculturas industriais

Juntamente com a nossa parceira ACESA (Associação Comunitária de Educação em Saúde e Agricultura), fomos para a aldeia Centro da Josina, no interior do Maranhão. Lá, somos recebidos na casa da família dos pequenos agricultores Elizangela e Reinaldo Furtado com café, frutas e sucos frescos.

Em seguida, damos um giro pelo imóvel cuja área é de 11 hectares. “Antigamente, eu trabalhava em uma fazenda de soja”, conta o Reinaldo. “No entanto, rapidamente ficou muito claro para mim o quão prejudicial são as monoculturas, o uso de pesticidas, adubadores minerais e a técnica de manipulação genetica para as pessoas e a natureza.” 

Foi por isso que ele voltou para a sua aldeia natal e, aconselhado pela ACESA, começou a cultivar o terreno. Agora, ele trabalha com métodos agroecológicos e agroflorestais, sem uso de adubadores quimicos ou artificiais.

Ele combina o cultivo de plantas de colheita anual, como o milho, mandioca e legumes com banas, árvores frutíferas, palmeiras e árvores de madeira tropical, o que é bastante produtivo. As diferentes plantas fortalecem e protegem-se entre si, aproveitam o solo, os nutrientes e a luz de modo ideal. Aqui não tem monocultura e as culturas diversas são constantemente revezadas. A criação de galinhas e de peixes em pequenos lagos completam o cardápio. Para prover o próprio sustento e a manutenção da família, somente é aproveitada a metade da área do sítio, ao passo que a outra metade fica descansando.

Faz dez anos que a ACESA trabalha também com as mulheres da aldeia. Estas utilizam o acervo de palmas-de-babaçú da região. Os frutos, sementes, troncos e a palma do babaçú podem ser aproveitados de forma múltipla, podendo ser usados como alimentos, cosméticos, medicamentos, artesanato e material de construção. A partir da prensa de seus frutos, extrai-se o óleo de babaçu, bem como é produzida a farinha para alimentação humana. A casca do fruto serve como carvão vegetal para cozinha e também para artesanato; já a palma do babaçú serve para fazer tetos, enquanto os seus troncos dão madeira de construção.

“Antigamente, a gente tinha vergonha de coletar babaçú. Hoje, nós temos é orgulho de fazê-lo”, declara a agricultora Maria Senhora.

Dez mulheres da aldeia juntaram-se para trabalhar com o babaçú: elas se encontram semanalmente para processá-lo e, em conjunto, vender a colheita e os produtos feitos a partir dele. “Agora nós usamos também as folhas da bananeira. Com ela, nós produzimos as coberturas laterais de caderninhos de notas”, diz a sua colega Dona Oneide. Em frente da casa, elas colocaram em exposição, sobre uma mesa, os seus produtos.

“Nós auxiliamos essas senhoras a se tornar autônomas e visíveis”, diz Didi Alves, da ACESA. Essa organização é ativa em quase 30 aldeias da região, situadas em seis diferentes distritos. Dentre os problemas mais graves na área estão a pulverização aérea de pesticidas, o roubo de terras por latifundiários e empresas agroindustriais, bem como a destruição de fontes de água. 


28 de outubro de 2025

Nós não nos deixamos vencer pela agroindústria

As pessoas da aldeia Alegria, no interior do Maranhão, prepararam para nós uma recepção muito calorosa. Alegria fica na área do município de Timbiras, uma área de transição entre a floresta amazônica e o cerrado.

Faz quatro anos que “Salve a Floresta”, por meio de nossa parceira, a Comissão Pastoral da Terra (CPT), apoia as pequenas agricultoras e agricultores da aldeia. No total, a CPT trabalha com cerca de 360 famílias em 20 municípios na região Timbiras.

“Há quatro anos estamos trabalhando na área, graças ao dinheiro doado por Salve a Floresta”, declara Antonia Calixto, da CPT. “Primeiro nós confeccionamos, com os moradores, mapas que mostram a situação e o uso das áreas agrícolas. Isso é importante, para que se possa reagir adequadamente contra o roubo de terras e o desmatamento ilegal”.

Um ano antes, tinham chegado na região as primeiras madeireiras, empresas agroindustriais e especuladores imobiliários. Eles começaram a derrubar árvores valiosas para explorar a madeira do ipê e da maçaranduba, e também compraram terrenos. Do resto da floresta saqueada, eles simplesmente se livraram por meio de derrubadas feitas por bandos. Em seguida, eles simplesmente semearam capim. E alguns anos depois, o que eles provavelmente fazem, é instalar lá plantações de soja ou milho. Um pouco mais adiante, no sentido sul, nas proximidades da área do município de Balsas, a monocultura de soja já se espalhou por toda parte.

É preciso que acabe a guerra do veneno contra o povo

“O drone pulverizador de veneno voou por cima de mim e me borrifou com pesticidas. O veneno queimou a minha pele”, declara o pequeno agricultor, mostrando-nos a sua pele lesada. “Desde então, eu já não tenho condições de trabalhar e de prover o meu sustento.”

É horrível o que essas pessoas estão nos contando. Eles dizem que a agroindústria os está atacando com uma guerra de veneno. A paisagem é pulverizada com produtos químicos a partir de aviões e drones. Tudo fica contaminado e morre: as árvores, o milho, as bananas, a mandioca, as leguminosas dos pequenos agricultores, as nascentes de água e os riachos. O objetivo, aparentemente, é forçar o povo local a abandonar as suas terras, comprando-as por preço barato para, em seguida, nelas instalar pastagens bovinas e monoculturas de soja ou eucalipto.

Entretanto, como a prefeitura proibiu a pulverização aérea de pesticidas, os aviões e drones agora lançam o seu veneno na calada da noite. É praticamente impossível filmar ou fotografar os drones na escuridão, ou descobrir quem os dirige ou está por trás dos ataques de veneno. Eles fizeram queixa perante diversos ministérios e autoridades, mas a pulverização continua. O pequenos agricultores presumem que os juízes, provavelmente, sejam cúmplices das firmas agroindustriais.

Mas eles não estão dispostos a desistir ou a se deixar expulsar. O trabalho conjunto com a CPT, o nosso apoio e a nossa visita dão-lhes esperança. Com o aconselhamento jurídico proporcionado pela CPF, o povo de Timbiras processou a empresa agrária Maratá por causa de roubo de terras. Com sucesso, porquanto eles conseguiram obter judicialmente ordem de devolução de 1700 hectares de terra, dos quais a firma os expulsara, mediante uso de violência. 

Depois de, juntos, termos almoçado peixe, feijão e arroz, eles nos ofereceram, como agradecimento, um cesto trançado cheio de produtos locais. Tinha biscoitos de babaçu, farinha de babaçu, óleo de babaçu, colares de casca de babaçu e frutas silvestres.

Por fim, caminhamos juntos para a floresta que eles vem conservando. Eles nos mostram também a nascente de água que agora, no meio do período de seca, garante--lhes água de beber.

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